Mantive um diário por 100 dias seguidos e olha no que deu

Odeio puxar assunto com “quem me conhece sabe” porque, muitas vezes, quem me conhece NÃO SABE. Mas, neste caso em específico, quem me conhece EU SEI QUE SABE que eu sempre fui obcecado por diários.

Me tornei leitor por causa de O diário da Princesa; minha mãe descobriu que eu sou gay porque leu no meu diário; já criei perfis na internet em DIVERSAS REDES SOCIAIS só para falar sobre (e mostrar!) meu diário. Todos eles já foram abandonados porque, bom, quem minha conhece sabe que eu não levo NADA adiante.

Todos esses anos escrevendo em diários e registrando minhas experiências, desde a mais sem graça até aquelas que literalmente mudaram o curso da minha vida, me ensinaram a importância de olhar para trás para entender a maneira como eu levo a minha vida hoje.

É sempre engraçado olhar um registro de diário de dois ou três anos atrás onde eu me DESCABELAVA por causa de um problema que hoje eu resolveria em dois segundos (ou que, no geral, não tem mais relevância alguma para mim). Também é interessante olhar para registros de dias muito bons quando preciso daquele empurrãozinho para continuar vivendo um dia de cada vez.

Falei isso tudo só para contar que ontem completei 100 dias consecutivos escrevendo TODO DIA SEM FALTA no Day One, um aplicativo de diário disponível para Android e iOS, que baixei para testar e não consegui largar. O aplicativo é gratuito e tem funções extras que podem ser desbloqueadas no plano Premium (como fazer entradas com áudio ou vídeo, por exemplo). Mas pra quem quer um lugar para depositar seus pensamentos privados em formato de texto e foto, a versão grátis é mais do que o suficiente.

Mas esse post não é um review de aplicativo.

Sou só eu chocado porque pela primeira vez na vida consegui escrever em um diário POR CEM DIAS sem pular nenhum!!! E eu queria comentar um pouco sobre como isso tem me ajudado a lidar com a minha rotina.

Eu sempre fui entusiasta de escrever diários sem filtro algum, colocando ali tudo que você pensa sem se preocupar com a ideia de que você talvez seja uma pessoa horrível ou egoísta ou ressentida ou problemática. Porque, na real, todo mundo é. Mas sempre fui amaldiçoado pela mania de transformar QUALQUER COISA que me faz bem em ~conteúdo.

Isso é normal, ok? É tipo quando aquele seu amigo faz uma sequência de onze stories no Instagram mostrando um eletrodoméstico que acabou de comprar e testando pela primeira vez como se estivesse em um programa de auditório. Ou aquela outra amiga que fez uma thread infinita no Twitter contando DETALHADAMENTE E EM TEMPO REAL sobre seu tempo de espera na fila dos correios. Todo mundo faz isso. Não há nada de errado. Eu faço o tempo todo. Mas usar o raio conteuzador no meu hábito de registro escrito acabou me fazendo perder a melhor parte de manter um diário.

Quando eu escrevia coisas que posteriormente se tornariam um post no Instagram, eu sempre empacado na hora de ser 100% sincero nos meus diários. Afinal de contas, a página tinha que ficar bonita para as pessoas verem, e se as pessoas fossem ver, eu não podia falar a VERDADE. Porque a verdade, na maior parte das vezes, a gente não conta para todo mundo.

Juntei a minha saudade de escrever todos os dias e a minha meta de ser uma pessoa que possui menos coisas e guarda menos papel e, em outubro do ano passado, comecei a utilizar o Day One. Cem dias depois, aqui estou eu.

É curioso ver como as coisas mudaram na minha percepção do mundo em poucos meses, como alguns medos ficaram maiores e outros diminuíram completamente. E, de certa forma, consigo ter um relatório de dias bons usando o sistema de tags do app. Eu uso três, no geral: dia bom, dia okay e dia ruim (e para dois dias específicos, criei a tag dia excelente). O app mostra a quantidade de entradas salvas em cada uma das tags, e isso me ajuda a enxergar de maneira clara como têm sido meus dias nos últimos meses (no momento em que escrevo este post, “dia bom” está vencendo!!!!).

Eu só tenho coisas boas a dizer sobre o hábito de manter um diário, mas a lista só aumenta quando se trata de um diário pessoal, secreto, honesto e que se encaixa na sua rotina. Eu tenho buscado muito ter uma rotina mais leve onde eu paro de tratar meus momentos de calma como uma OBRIGAÇÃO. E agora, prestes a completar 30 anos em alguns meses, estou cansado de obrigações que eu mesmo invento para mim.

A ideia desse texto é te encorajar a botar seus sentimentos para fora em forma de diário. Mas sei que, principalmente para quem não costuma fazer isso, pode ser uma tarefa chata, difícil e exaustiva. A gente tem a ideia de que toda entrada de diário precisa ser um episódio de Sex & the City que começa com um pensamento, narra uma história e termina com uma grande conclusão para um problema. E não é assim que funciona.

Criar uma linha narrativa para a sua rotina e contar sua vida em forma de história é cansativo e, desta forma, o registro diário se torna quase que um segundo trabalho. E nós não queremos um segundo trabalho! Principalmente segundos trabalhos não remunerados! O que queremos aqui é uma forma de listar nossos sentimentos, registrar pensamentos e olhar para trás com mais gentileza. Tratar com mais amor a pessoa que nós éramos a alguns dias, meses ou anos atrás.

E, para isso, gosto de usar uma técnica que aparece em basicamente todos os meus registros de diário dos últimos 100 dias. Se segura que chegou a hora da ✨ DICA PRÁTICA ✨

  • Escreva
  • Em
  • Tópicos

Simples assim. Sem se importar com a ordem (mas às vezes, escrever sobre o meu dia na ordem cronológica dos acontecimentos me ajuda a lembrar de tudo). Sem se importar se o item 1 tem relação com o item 2. Sem se preocupar em CONTAR UMA HISTÓRIA. Escreva o que você gostaria de lembrar no futuro e ponha para fora o que você sente, sem filtros.

Exemplificando, uma entrada de diário em tópicos que eu escrevo, geralmente é mais ou menos assim:

  • Acordei meia hora mais cedo do que o normal e fiz café. Me senti mais disposto do que a maioria dos dias.
  • Conversei com minha amiga sobre coisas que queremos fazer este ano e fiquei muito empolgado. Eu adoro como ela sempre consegue me animar mesmo quando eu estou zero animado.
  • Fiz uma receita nova no almoço. Ficou meio ruim. Tentar usar menos sal da próxima vez.
  • Minha mãe me ligou. Ficamos quase uma hora no telefone. Estou com saudades. Quero eu mesmo ligar da próxima vez.
  • Tenho aquela coisa para entregar depois de amanhã. Estou meio ansioso com isso. Espero que dê certo.
  • Li por meia hora depois do almoço.
  • Preciso organizar meu e-mail de novo.
  • E comprar batata.

Muita coisa entre estes tópicos não vai fazer diferença nenhuma para mim no futuro. Saber que naquela data específica eu precisava comprar batata vai ser divertido e mais nada. Ver que meses se passaram e eu continuo com o e-mail desorganizado, pode me fazer TOMAR UMA ATITUDE. Ler, anos depois, sobre uma conversa boa com uma amiga pode me fazer refletir (“Essa pessoa ainda está na minha vida?” “Eu ainda me sinto bem quando converso com ela?”). 

Ter tudo isso no celular, me esperando para escrever antes de dormir (com uma notificação programada para a hora em que eu geralmente vou para a cama) me ajuda a vencer a preguiça e botar pra fora nem que sejam três linhas — que às vezes viram trinta porque eu tinha muita coisa guardada dentro de mim. Descobri que, dentro do meu dia-a-dia, isso funciona de maneira muito mais prática do que sentar no escritório cercado de canetas e adesivos e cadernos e uma página em branco intimidadora.

Mas se um diário de papel funciona pra você, ótimo também! O importante é fazer o que te faz bem. Porque o mundo é horrível e às vezes a gente esquece que tirar quinze minutinhos do nosso dia para cuidar da gente pode fazer muita diferença lá na frente. Então, se você ainda não faz isso, pegue papel, caneta ou apenas seus polegares, e comece a escrever!


Meu nome é Vitor Martins e eu sou escritor. Se você quiser apoiar meu trabalho com apenas R$5,00 mensais, se inscreva na minha newsletter quinzenal, onde sempre envio dicas de escrita, prévias de projetos futuros, ilustrações bonitas e COISAS NO GERAL. 

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