No último final de semana assisti The Old Guard na Netflix, um filme lançado recentemente que é baseado em um quadrinho com o mesmo nome (que eu não li porque descobri que era baseado em um quadrinho literalmente agora) (então não esperem NADA sobre QUADRINHOS nesse texto ok). Eu não sabia muita coisa sobre esse filme e, sinceramente, tenho evitado o esforço de buscar informações sobre lançamentos de filmes e séries, porque tenho uma pilha enorme de lançamentos pra assistir, nunca arrumo tempo, e quando arrumo, decido REVER AQUAMAN pra decidir se gostei de verdade ou ironicamente (gostei de verdade).
Esse texto talvez tenha MINI spoilers sobre The Old Guard, mas nada muito absurdo. Apenas a quantidade necessária para que você que já assistiu pense “Puts, isso mesmo!!!!” e você que não assistiu fique com vontade de ver.
Em resumo, The Old Guard é um filme de ação com um pouco de MAGIA que acompanha um grupo de pessoas imortais, que viveram literalmente centenas de anos lutando em guerras e defendendo pessoas, morrendo e revivendo e fugindo (porque quando você é imortal todo mundo quer te usar de alguma forma, então você nunca está seguro). A parte da magia fica só na imortalidade. Não tem dragão nem bruxa no filme.
Por algum motivo que destoa completamente de todos os meus traços de personalidade, eu amo filmes de ação. Amo cenas de luta, tiro, perseguição de carros, coisas explodindo, armas, sangue, porrada! É o tipo de filme que eu gosto de assistir para me anestesiar da realidade e passar duas horas com o olho grudado na TV vendo acrobacias impossíveis e desastres eminentes. É quase como assistir patinação artística. Só que é mais barulhento e eventualmente pessoas morrem.
Nunca me importei com plot de filme de ação. Lembro da vez em que saí do cinema depois de assistir Missão Impossível – Efeito Fallout e eu literalmente não conseguia EXPLICAR a trama do filme, porque todos os Missões Impossíveis são meio a mesma coisa. Máfia, crimes, um explosivo feito de substâncias específicas, corre, corre, corre, explode, Tom Cruise rolando no telhado. Mas eu me lembro até hoje da sensação DELICIOSA de ver o Henry Cavill arregaçando as mangas no banheiro e partindo pra briga. Lembro de como era bom sentar na beiradinha da poltrona do cinema gritando mentalmente “Porrada! Porrada!” como se estivesse no auditório do Programa do Ratinho.
Agora imaginem vocês um filme que te faz sentir tudo isso e, ao mesmo tempo, tem personagens com camadas interessantes. E um bom plot. E te surpreende com 30 segundos de uma música do Frank Ocean. E, acima de tudo: gays.
O grupo de guardiões imortais apresentados no filme tem, basicamente, cinco pessoas. Um gay ali no meio já seria a realização de um sonho pra mim, como expectador de filmes de ação que sempre sonhou em ver gays metralhando vilões. Mas dois? E eles ainda são apaixonados? Eu me senti no paraíso!
Por muito tempo eu ouvi e reproduzi o discurso que diz “Ah, eu quero histórias gays onde o gay só existe, ele não precisa mostrar que é gay. Ele é um astronauta, e ser gay é só um detalhe. Ele persegue dinossauros robôs do mal, e por acaso é gay. A sexualidade não faz diferença” e quanto mais eu penso nisso, mas percebo que faz sim. Faz absolutamente TODA a diferença. Não me entenda errado, eu continuo querendo gays perseguindo dinossauros robôs do mal, a diferença é que hoje eu tenho certeza de que ele não perseguiria dinossauros robôs do mal da MESMA FORMA que um personagem hétero. (Ele provavelmente faria de uma forma muito melhor) (Mas a discussão não é essa).
The Old Guard mostra isso de um jeito bem claro a partir do relacionamento de Joe e Nicky. Imagina ser imortal. E gay. E estar vivo desde 1066 quando nada era como é hoje. Você conhece o amor da sua vida mas ainda não sabe que ele é o amor da sua vida. E vocês matam um ao outro inúmeras vezes antes de perceberem isso. Mas quando percebem, parece uma boa ideia passar uma eternidade juntos. Pensar em tudo o que os dois precisaram viver ao longo de centenas de anos para continuarem juntos, diz muito sobre quem eles são como personagens e como um casal. Joe e Nicky, através dos séculos, tiveram que enfrentar situações que “Joe e Nicolle” não teriam enfrentado. E ainda assim, cá estão eles juntos, cheios de sorrisos, piscadinhas e planos para destruir o Mark Zuckerberg da indústria farmacêutica.
É óbvio que esse relacionamento me fez pensar em mil coisas. A idealização do amor romântico, até onde eu iria para proteger quem eu amo, a comodidade do relacionamento dos dois (porque é bem mais fácil estar com alguém que é imortal como você) (e eu não vou nem chegar em toda a BISSEXUALIDADE LATENTE da Andy e sua busca incansável pela garota que ela gosta). E, apesar de todas as camadas de debate que essa história pode trazer, no fim do dia ela significou um momento de alegria pra mim, onde eu pude passar um restinho de domingo gritando SIM! SIM!!!!! no sofá sempre que os dois apareciam.
O que isso me ensina a respeito de narrativas é que, de uma forma ou de outra, a sexualidade sempre vai definir o tom de um personagem. E isso não tem nada a ver com relacionamentos afetivos, atração ou com quem os personagens fazem (ou não fazem) sexo. Isso tem a ver com como eles enxergam o mundo e como o mundo os enxerga. Como essa via de mão dupla define o caráter, as motivações e a jornada de cada um. Nos ajuda a entender de que lado essas pessoas estão lutando. E eu só precisei de uma piscadinha para ficar do lado deles dois.

Uma resposta para “Gays!!! Metendo a porrada”
[…] Além de ótimas personagens mulheres, o filme tem um casalzinho aquileano (formado por dois homens) que é muito, muito fofo e o Vitor Martins fez um texto a respeito. […]
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