2020 tem sido uma série de catástrofes e se você leu isso e pensou “hm, engraçado, por aqui tá tudo ÓTIMO” eu definitivamente não confio em você. Lá no comecinho de janeiro, quando eu ainda tinha sonhos, expectativas e brilho no olho, anunciei um livro para este ano chamado Fred & Fred. Recentemente tive que desanunciar os Freds (uma experiência horrível, não recomendo) porque as chances de eu terminar de escrever este livro ainda em 2020 eram baixíssimas. Com isso, aprendi a lição valiosa de nunca prometer nada que não esteja 100% pronto e, se possível, nunca prometer nada no geral.
Tem sido um aprendizado bem difícil para mim pois, como muitos sabem, sou viciado em prometer.
Fiz esta breve introdução só para dizer que, apesar de não estar cumprindo o que prometi, estou escrevendo!!! Em um ritmo esquisito e com motivações completamente questionáveis mas desde que a quarentena começou, a vida é um grande ritmo esquisito com motivações questionáveis. Tenho me esforçado para encontrar inspiração onde posso e, recentemente, me dei conta de como falar e ouvir sobre processos de escrita me deixa empolgado para produzir!
Tudo começou na Flipop deste ano, a primeira edição online do evento, com painéis rolando no Youtube ao longo de quatro dias! Eu participei de um deles, onde falei justamente sobre produção literária e criativa em tempos de pandemia. Para a minha surpresa, consegui elaborar palavras em vez de gritar e chorar por uma hora e meia conforme o esperado. A mesa está disponível no YouTube e você pode assistir aqui!
Ao longo da programação, muitos escritores e escritoras passaram pelos painéis e, por mais que os temas em debate fossem os mais diversos, de certa forma a conversa sempre passava pelos processos de escrita e esse assunto capturava totalmente a minha atenção. O Jim Anotsu, a Carol Christo e a Thalita Rebouças falaram sobre seus processos em um painel incrível sobre leitura na pré-adolescência; A Luiza Souza, o Samuel Gomes e a Aryane Cararo mostraram como exploram formas diferentes de narrativas nos seus trabalhos; as autoras internacionais Ibi Zoboi, Cassey McQuiston e Kiersten White também compartilharam as particularidades dos seus processos.
E ao fim de cada uma dessas mesas, eu me sentia preparado para sentar e escrever como uma MÁQUINA. Cinco bilhões de palavras por dia. Uma história atrás da outra. Ouvir sobre o processo de outras pessoas me deixa pilhado para entender mais sobre o meu processo de contar histórias, e eu aproveitei cada segundo de inspiração para me dedicar ao meu próximo livro.
Eventualmente a empolgação passou. A vida voltou ao normal, sem Flipop e com muitas obrigações e prazos do meu “emprego normal”. Até que na semana passada, o Mateus Bandeira (autor de Porque eu quis o melhor) fez uma thread completíssima no Twitter falando sobre desenvolvimento de projetos de escrita, detalhando o passo-a-passo que ele segue e compartilhando as ferramentas que ele usa. Daí a inspiração voltou com força novamente.
Isso me fez perceber que:
- Saber como as pessoas escrevem me ajuda a ser um escritor melhor;
- Provavelmente não é saudável colocar a minha motivação de escrita na boa vontade dos outros de compartilhar conhecimento porque têm dias em que eu simplesmente vou precisar sentar a bunda na cadeira e produzir independente de inspiração ou não;
- Compartilhar o meu processo pode ajudar outras pessoas e, de quebra, me ajudar.
Com a certeza de que vou soar narcisista, devo dizer que eu amo falar sobre o que eu estou escrevendo. Amo de um jeito que, se eu não me segurar, conto tudo pra qualquer estranho que estiver passando na rua (nos tempos em que eu pisava na rua). Geralmente quando estou travado em alguma história, o que me ajuda é mandar uma mensagem para a Tassi (minha agente) perguntando se ela está com tempo e paciência para me ouvir e, antes que ela termine de digitar o “sim” eu já começo a despejar a história inteira desde o começo, relembrando detalhes que eu havia esquecido e pegando, a partir das reações dela, ideias de como seguir com a trama.
Lembro que quando comecei a escrever meu primeiro livro, Quinze dias, eu não tinha agente, nem amigos que escreviam, nem ideia do que eu estava fazendo. E naquela época eu me ALIMENTAVA do Diário de Escrita da Bárbara Morais. Aquele havia sido o primeiro conteúdo sobre produção literária de ficção que conversava comigo, que explicava as minhas dúvidas de um jeito claro, que tratava temas que me interessavam e que estava disponível pra mim de graça! Eu li e reli os textos da Bárbara diversas vezes (e eventualmente mandei uma DM no Twitter na maior cara de pau perguntando se ela topava ler meu livro e escrever uma blurb) (ela topou) (somos amigos hoje!!!!).
Depois disso tentei manter um diário de escrita mas descobri que, como muitas coisas na vida, sou muito mais apaixonado pela IDEIA de ter um diário de escrita do que pelo trabalho de manter um. Todo o meu processo de Um milhão de finais felizes estava registrado em um blog que acabei perdendo porque sou burro.
Esse texto não tem muita conclusão, e eu não sou nem doido de prometer manter um diário de escrita. Chega de promessas até eu terminar de escrever meu terceiro livro!!! Mas deixo aqui uma (mini) promessinha de tentar compartilhar, sempre que possível, um pouco sobre como funciona a minha produção de textos. Não com um ar de “Olá jovem, eu faço ASSIM” *tapinha nas costas*, e sim como quem te convida a compartilhar também. Eu escrevo assim, e quero saber como VOCÊ escreve.
Se você está lendo isso aqui e também escreve, te encorajo a compartilhar como as histórias tomam forma na sua cabeça, quais ferramentas você usa, quais os seus maiores medos e no que você se considera verdadeiramente bom. Seja em um texto, um vídeo ou um tuíte, o seu processo pode ajudar alguém, que vai ajudar alguém, que vai ajudar outro alguém. Tipo naquele filme Corrente do Bem, que eu morro de medo de assistir depois de adulto e acabar achando ruim.
2 respostas para “Falar sobre escrita me ajuda a escrever”
EU AMEI, seu post é super necessário, eu sou super seu fã, também escrevo (mesmo que seja coisas que nem 10 pessoas leiam) mas eu amo demais o que faço, e nesses tempo de pandemia está sendo complicado manter minha rotina de escrita.
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Oi Vitor tudo bem? Sempre tive muitas histórias em minha cabeça mas nunca soube bem como coloca-las no papel. Nesse exato momento estou procrastinando no home office, tenho muitos e-mails para enviar, mas de alguma maneira vim parar aqui. Sempre tive uma paixão pela leitura e algo que veio sendo construído desde que eu era criança, inclusive tem uma história bem engraçada sobre isso, mas acredito que não caiba aqui. Gostaria de dizer que suas histórias tem muita vida e transmite bastante verdade, gostaria de organizar as minhas ideias também, assim como você propõem no final do texto, mas aqui as coisas são bem bagunçadas. E no mais é isso, espero que você consiga terminar o seu livro, mas que seja no seu tempo. Abraços.
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